quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Portugal também vai ao planeta vermelho

O módulo Schiaparelli foi vestido com um terno (fato) feito em Portugal. Esta quarta-feira, a tecnologia nacional vai chegar longe. E todos vão acompanhar e celebrar os “sete minutos de expectativa"

Portugal não ficou fora desta aventura da Agência Espacial Europeia e da Rússia e também participou na missão ExoMars. Desde o revestimento do módulo Schiaparelli até às simulações que levaram a um novo plano da missão, passando pelo desenvolvimento de software e pela elaboração de mapas térmicos, Portugal tem participação nesta viagem.

O módulo Schiaparelli leva até Marte um “terno" (fato)  feito em Portugal. Celeste Pereira, diretora funcionária da empresa luso-alemã HPS, prefere chamar-lhe um “isolamento térmico multicamadas denominado de MLI”. Na realidade, estamos falando de um material de revestimento, resistente a temperaturas, que podem ir dos 150 graus Celsius negativos a um limite máximo de 400 graus positivos.

O material inventado pela HPS foi adaptado para esta missão e produzido em salas esterilizadas para evitar qualquer contaminação biológica da Terra em Marte. O revestimento metalizado, conta Celeste Pereira, cobre o corpo negro do equipamento e instrumentos que estão no interior da cápsula Schiaparelli. Num contrato que ascende a um milhão de euros, a HPS ocupou oito pessoas que  trabalharam na missão diariamente durante três anos. Foram produzidos 15 quilos de terno/revestimento que protegem o Schiaparelli.

Mário Lino, do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (do Instituto Superior Técnico) de Lisboa, também ajudou a proteger o módulo, embora sua participação no projeto fosse na fase de pré-projeto,  mas ainda assim a participação deste instituto foi decisiva para o mesmo. As simulações detetaram possíveis problemas com a elevada radiação emitida pelo dióxido de carbono na atmosfera de Marte e terá sido fundamental para a decisão de dividir a missão ExoMars em duas etapas: uma para levar a sonda Trace Gas Orbiter (TGO) e o módulo de aterragem Schiaparelli e a segunda que levará o rover em 2020. “Estou mais ou menos confiante”, diz Mário Lino, mencionando a possibilidade de o Schiaparelli aterrar em Marte durante uma tempestade de areia.

“Uma tempestade de areia não seria mau. Existe a esperança de que haja poeira a ser levantada para que se possam tirar dados. O Schiaparelli pode medir isso”, afirma Bruno Carvalho, responsável pela área de espaço da empresa Critical Software. Tal como o nome indica, esta empresa foi responsável pelo software desenvolvido especificamente para a ExoMars. A participação foi mais dirigida para a TGO mas, ainda assim, é o software ali instalado que vai permitir receber os dados enviados pelo módulo e que depois serão transmitidos para a Terra. “O nosso software nunca chegou tão longe”, constata Bruno Carvalho, que diz estar preparado para assistir hoje “sete minutos de terror”, o tempo que o Schiaparelli demora desde a entrada na atmosfera rarefeita de Marte até pousar no solo.

Ricardo Patrício, da empresa portuguesa Active Space Technologies, corrige: Depois desses sete minutos ainda vamos ter de esperar uma meia hora para receber os dados e saber se está tudo a funcionar. Neste caso, os cientistas fizeram simulações em computador para elaborar mapas térmicos que ajudaram a decidir o local da aterragem. Mas, segundo Ricardo Patrício, a participação da empresa está sobretudo centrada na segunda etapa da missão, com a chegada do rover em 2020.

Nesta quarta-feira, todos os técnicos das empresas portuguesas envolvidas na aventura da missão ExoMars, vão acompanhar a transmissão em direto da aterragem do Schiaparelli em Marte e celebrar o momento especial. Ou espacial, se preferirem.

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