1.
Trump recebeu os votos dos republicanos, noventa por cento das pessoas
que se identificam com o Partido Republicano votaram no seu candidato.
Trump também ganhou entre os independentes, por 6 pontos. A
maior parte dos seus eleitores têm o perfil republicano clássico: são
mais idosos, mais brancos, mais religiosos e menos urbanos do que os
democratas.
2. Esse sucesso tem uma causa: a
polarização. Dos eleitores de Trump, 27% afirmam que seu candidato não
transmite confiança. Uma percentagem semelhante diz que ele não tem um temperamento adequado para ser presidente.
Por que, então votaram nele? Uma explicação é que, apesar desses
defeitos, eles preferiram Trump do que Hillary Clinton
ou a outros democratas de maneira geral.
Dos eleitores de Trump, 72%
justificam o seu voto com um motivo: "Ele pode trazer a mudança
necessária". São sintomas da polarização partidária que vem aumentando
nos EUA há vários anos. Um dado: 23% dos liberais e 30% dos
conservadores admitem que veriam com maus olhos caso um familiar se
casasse com uma pessoa que tivesse ideologia contrária a deles.
3. Trump superou o seu antecessor
republicano em um grupo: o de etnia branca sem curso superior. Em 2004 e
2008 os republicanos ganharam nesse setor com 20 pontos de diferença.
Trump ganhou agora com quase 40 pontos. De acordo com o texto do jornal The New York Times,
é possível vê-lo com clareza. Os brancos sem curso superior constituem
um grupo numeroso –cerca de 34% de todos os norte-americanos, e
especialmente em estados decisivos: em Iowa, eles são 49% do total; em Wisconsin, 45%; em Ohio, 42%; e em Michigan, 37%
4. Trump conquistou eleitores pobres, mas
não foi o mais votado entre eles. Ao contrário: o candidato republicano
foi vitorioso entre as pessoas com renda mais alta (acima de 200mil
dólares), enquanto Clinton venceu entre as com renda mais baixa. Mas é
verdade, também, que Trump diminuiu a distância, em termos de renda,
entre republicanos e democratas. Não só em relação a Obama, mas também a John Kerry
em 2004. A relação entre renda, raça, nível de formação e meio urbano e
rural é muito complexa. Se Trump não ganhou entre as pessoas de renda
mais baixa, é provavelmente porque as minorias raciais –sobretudo os
negros—votam nos democratas. Mas Trump ganhou terreno entre os eleitores
brancos com baixa formação e renda mais baixa.
5. Houve eleitores de Obama que
votaram em Trump em estados-chave. Os democratas "perderam essa eleição
porque milhões de eleitores brancos da classe trabalhadora que votaram
em Obama mudaram e optaram por Trump", dizia o analista eleitoral Nate Cohn
esta semana. Em 30% dos 700 condados onde Obama ganhou em 2008 e 2012, a
vitória, desta vez, veio a Trump. Vários desses condados pertencem a
estados do meio oeste industrial, que acabaram sendo essenciais para a
vitória de Trump no colégio eleitoral.
São condados mais brancos, em sua
população, do que a média, mas onde Obama se mostrou muito forte. Como
explicação, Cohn assinala uma semelhança entre Obama e Trump: "Os dois
se apresentaram como agentes de mudança, contra o establishment e os
interesses corporativos".
6. Há muita coisa que ainda não sabemos
sobre esta eleição. Os dados sobre o comparecimento do eleitorado às
urnas ainda estão incompletos. Na Califórnia, passados dez dias, os
votos ainda estão sendo contados. Não é verdade que o número tenha caído
muito nem, provavelmente, que Clinton perdeu porque não mobilizou as
minorias, os jovens ou as mulheres.
Também não sabemos com clareza o
peso que teve o voto dos "exluídos" ou dos "deserdados da
globalização", e se esse elemento é realmente crucial para compreender
essas eleições. Essa é uma das interrogações do nosso tempo: a relação
entre expectativas, nostalgia, globalização e crise. Mas ela não é nada
simples.
7. O analista Nate Silver disse que muitas conclusões peremptórias têm sido tiradas nos últimos
dias sobre a vitória de Trump: "A mentalidade reacionária está no topo nos
EUA", "os demônios do racismo e da misoginia estão de volta", "aumenta a
divisão entre as elites das costas leste e oeste e o resto do país". Entretanto, o
resultado foi muito apertado, mas Hillary, teve mais votos do
que Trump. Se 1% dos eleitores tivesse votado diferente, ela teria
ganho e as conclusões seriam bem diferentes. Estaríamos falando da
primeira mulher a assumir a Casa Branca.
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