Valentina Vladimirovna Tereshkova (em russo: Валентина Владимировна Терешкова; Maslennikovo, 6 de março de 1937) é a primeira cosmonauta e a primeira mulher a ter ido ao espaço, em 16 de junho de 1963, na nave Vostok VI.
Após o sucesso de sua missão, foi transformada em heroína nacional, servindo como exemplo e estímulo às demais mulheres do mundo. Foi
condecorada pelos líderes soviéticos, russos e estrangeiros de várias
gerações. Nos anos seguintes se tornou proeminente na sociedade e na política do país, primeiro na União Soviética e depois na Rússia. Até os dias atuais, é a única mulher a ter feito um voo solo ao espaço.
Vinda de uma família proletária, seu pai era um motorista de trator, que desapareceu na guerra russo-finlandesa de 1940. Valentina só conseguiu entrar para a escola aos oito anos, começando a trabalhar aos dezoito, em uma fábrica têxtil,
para ajudar a mãe viúva. Na mesma época, começou a participar de um
clube de paraquedistas amadores e deu seu primeiro salto em 21 de maio
de 1959. Criou o Clube de Paraquedistas Amadores da fábrica e tornou-se
sua presidente. Dois anos depois, se tornou secretária do Komsomol (era a organização juvenil do Partido Comunista da União Soviética) local e recebeu um certificado de especialista em tecnologia de fiação.
Aos 24 anos, em 1961, começou a estudar para se qualificar como cosmonauta, no mesmo ano em que o diretor do programa espacial soviético, Sergei Korolev, considerou enviar mulheres ao espaço, numa forma de colocar a primeira mulher em órbita na frente dos Estados Unidos, durante a corrida espacial entre as duas superpotências.
Em 1962, ela foi admitida como cosmonauta, junto a mais quatro
mulheres – das quais apenas ela acabou indo ao espaço – sendo a menos
preparada de todas, sem educação universitária, mas uma paraquedista
experiente, o que era uma considerada uma condição fundamental para o
voo, já que a nave Vostok operava automaticamente, dispensando
pilotagem, mas o ocupante era ejetado dela após a reentrada, pousando
com um paraquedas pessoal.
As pré-condições para a aceitação das postulantes a cosmonautas eram ter
menos de 30 anos, menos de 1,70 m, menos de 70 kg, saúde perfeita,
ideologia pura e ao menos seis meses de experiência em paraquedismo. Ela
cumpria todos esses requesitos. Ao final dos meses de testes, que
incluíram aprendizagem de pilotagem de jatos, testes em centrífugas
e isolamento completo, ela e outra candidata, Valentina Ponomaryova,
foram as finalistas. Ponomaryova, mais preparada tecnicamente e com
educação melhor, tinha sido a mais apta nos testes gerais, mas Tereshkova
tinha sido a melhor nas entrevistas com os ideólogos do Partido Comunista.
De qualquer modo, o governo soviético, cuja intenção de enviar uma mulher ao espaço era fazer propaganda política no Ocidente,
pretendia fazer um voo duplo, com duas mulheres subindo ao espaço em
naves separadas. O plano porém, foi cancelado de última hora pelo
Politburo (trata-se de um comité executivo de numerosos partidos
políticos, designadamente os antigos partidos comunistas do Leste
Europeu e o Partido Comunista de Cuba) e decidido que apenas uma subiria; a outra nave seria pilotada
por um homem.
Foi Nikita Krushev
quem decidiu finalmente por Tereshkova, e a idealizou como a "Nova
Mulher Soviética": uma comunista devotada, trabalhadora humilde de
fábrica de tecidos – Ponomaryova era piloto, cientista, engenheira,
feminista, desbocada e fumava, filha de um herói de guerra e
basicamente "uma boa menina".
Para questões de propaganda, Krushev
também achava que Valentina era a mais bonita delas. Irina Solovyova, a terceira candidata melhor avaliada, ficou como reserva. Nikolai Kamanin, piloto herói de guerra soviético e então chefe do departamento de treinamento de cosmonautas do programa espacial soviético, depois chamaria Tereshkova de "Gagarin de saias".
Primeira mulher no espaço
Em junho de 1963, a União Soviética
colocou simultaneamente duas espaçonaves no espaço, lançadas com
diferença de dois dias, a Vostok V e a Vostok VI. A primeira foi
pilotada por Valery Bykovsky,
que completou uma
missão de cinco dias, batendo o recorde de resistência no espaço. Valentina voou na Vostok VI, lançada de Baikonur em 16 de junho, tornando-se a primeira mulher a ir ao espaço.
Valentina completou 48 órbitas em volta da Terra, no total de 71 horas, quase três dias, apesar das náuseas,
vômitos, segundo ela pela qualidade da comida a bordo, teve dores
fortes na canela direita a partir do segundo dia e do desconforto
psicológico que sentiu. Depois de chegarem a permanecer em órbita a uma
distância de 5 km de uma nave para a outra, com Bykovsky e Tereshkova trocando
impressões e saudações por rádio entre si e com o controle de terra, ambas as naves aterrissaram no dia 19 de junho.
Valentina teve problemas em seu retorno. Além da falta de rádio após a
nave ser colocada em órbita descendente e iniciar os procedimentos de
descida, quando ejetada da Vostok VI já na atmosfera e continuar a descer de paraquedas, esteve próxima de cair dentro de um lago.
Ela disse em suas memórias que se isso acontecesse talvez não
conseguisse sobreviver, sem forças para nadar até a borda, estando desidratada, exausta, com fome pelas náuseas que praticamente a
impediram de comer em órbita, e psicologicamente afetada pela viagem, em princípio programada para um dia mas alongada para três, pela
sensação que causou no mundo o seu lançamento.
Mas um forte vento mudou a direção do paraquedas e a fez cair em terra.
Mesmo assim, o impacto foi forte e ela ficou com uma grande mancha roxa
no nariz, que bateu no capacete, sendo obrigada a usar forte maquiagem
pelos dias seguintes de aparições públicas oficiais. Seus três dias a
bordo da Vostok eram então mais tempo no espaço que todos os astronautas
norte-americanos tinham juntos. Só nos anos 1980 uma mulher russa voltaria ao espaço.
No local onde Valentina pousou, existe hoje um pequeno parque com uma
estátua de prata retratando a cosmonauta com os braços abertos, vestida
em traje espacial e sem capacete. Seu sinal de chamada na Vostok VI, "Chaika" (gaivota), tornou-se seu apelido entre o povo soviético. Uma cratera na Lua, Tereshkova e um asteróide, 1671 Chaika, foram batizados em sua homenagem.
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