E se eu for deportado por Trump? Essa é a pergunta de vários dos imigrantes sem documentos que vivem nos EUA. E eles têm
razão. Baseiam-se exclusivamente no que Donald Trump disse na campanha
presidencial. Nada mais. Por isso há tanto temor na comunidade hispânica
nos EUA.
Na tentativa de normalizar um candidato extremista como Trump, seus
seguidores nos pedem que não tomemos ao pé da letra o que ele disse. Mas
como não levar a sério as palavras do próximo presidente dos EUA?
Alguns seguidores de Trump, com sede de vingança, acusam os jornalistas de
semear o medo na comunidade latina, ao falar em deportações em massa.
Mas quem criou esse medo foi o próprio Trump. A mídia relatou o que ele disse, e o que disse foi que quer deportar
milhões de pessoas.
Em sua última entrevista ao
programa "60 Minutes", Trump disse que inicialmente buscaria a
deportação de até 3 milhões de sem documentos que, segundo ele, têm
um registro criminal. Não se sabe de onde ele tirou tais dados, pois só 690 mil sem documentos cometeram algum tipo de delito
sério, segundo o Instituto de Políticas de Migração.
Esses 690 mil imigrantes com histórico criminal são apenas 6,3% do
total da população sem documentos. Isso quer dizer que 93,7% dos sem
documentos, a grande maioria é gente trabalhadora.
Mas o problema será quando começarem as batidas em busca dos imigrantes
com antecedentes penais. Eles, é claro, não vivem sozinhos. Essas
operações separariam famílias e criariam terror. Anthony Romero, o
diretor da União Americana de Liberdades Civis, já advertiu em uma
entrevista à MSNBC: há o risco de violações dos direitos humanos,
prisões injustificadas e detenção de pessoas que não estão sendo procuradas.
Ninguém estava preparado para isso, nem sequer o governo do México. A
secretária de Relações Exteriores deste país, Claudia Ruiz Massieu, ofereceu um
plano de 11 pontos para proteger os 5,7 milhões de mexicanos sem
documentos nos EUA. As medidas incluem dar maior proteção nos 50
consulados e um número de telefone de ajuda.
Esse assunto não pode ser resolvido em nível
individual; é uma questão de governos. Mas está muito claro que Enrique
Peña Nieto é um presidente que não está apto para negociar com Trump, que o humilhou em agosto em uma
entrevista coletiva na Cidade do México.
De fato, a
disputa pela Presidência do México em 2018 será definida, em boa medida,
por quem puder se opor com eficácia a Trump, seu muro e suas batidas.
Peña Nieto já está de saída e é um dos presidentes mais fracos que o
México já teve.
Por isso, os prefeitos das principais
cidades dos EUA --Los Angeles, Nova York, Chicago, San Francisco,
Denver-- são os que assumiram a defesa dos sem documentos diante de
Trump e manterão suas cidades como "santuários". Nessas cidades a
polícia migratória não será bem-vinda, não darão informação pessoal de
seus moradores e os corpos de polícia não cooperarão com as detenções.
O que nos espera a partir de 20 de janeiro é uma duríssima luta pelos
direitos dos imigrantes nos EUA. O fato de Trump ser o próximo
presidente não significa que tenha razão em tudo. Ele insistirá em seus
planos de deportações em massa, as maiores já planejadas, mas uma
boa parte do país ainda resiste às ideias racistas e anti-imigrantes do novo presidente americano.
O que se pode afirmar é que o medo entre os imigrantes é real. Mas a resistência também.
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