Aos 92 anos, Mário Soares, parte para a vida eterna. Ele que foi Presidente da República portuguesa,
destacado antifascista, fundador do Partido Socialista de Portugal,
primeiro-ministro do I Governo Constitucional de Portugal.
Mário Soares foi uma figura importante na luta anti-fascista e na restauração da
democracia portuguesa. Sempre um "Republicano, Socialista
e Laico" convicto.
Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras
da Universidade de Lisboa, em 1951, e em Direito, na Faculdade de
Direito da Universidade de Lisboa, em 1957, além disso, foi professor do ensino
secundário e diretor do Colégio Moderno, fundado por seu pai, João Lopes Soares, conhecido como João Soares, que também foi um professor,
político e pedagogo que, entre outras funções, foi deputado, governador
civil e Ministro das ex colônias durante a Primeira República Portuguesa.
Combatente tenaz contra a ditadura salazarista, pertenceu ao MUNAF
(Movimento de Unidade Nacional Anti-Fascista), em maio de 1943,
tornando-se depois membro da Comissão Central do MUD (Movimento de
Unidade Democrática). Assumiu também, num momento em que aparecia uma luz no fim do túnel para a restauração das liberdades em Portugal com a candidatura do General Norton de Matos à Presidência da República, apoiada
pelos líderes democratas como ele, sendo nomeado Secretário Da Comissão Central desta Candidatura em 1949 e também da candidatura do General Humberto Delgado em 1959, que acabou assassinado pela ditadura de Salazar e cuja família depois recebeu assistência jurídica de Mário Soares que além disso representou a
família na investigação que desvendou o papel da PIDE(Polícia Internacional e de Defesa do Estado) na operação.
Como membro da Resistência Republicana e Socialista e candidato a
deputado pela Oposição Democrática, em 1965, e pela CEUD(Comissão Eleitoral de Unidade Democrática), em 1969, foi
preso pela PIDE 12 vezes, cumprindo um total de quase 3 anos de cadeia.
Foi deportado para a ilha de S. Tomé (África) em 1968 e depois forçado
ao exílio em França.
Em 1964, fundou a Ação Socialista Portuguesa, que se transformou no
Partido Socialista em 1973. Para além de fundador, Mário Soares foi
eleito e reeleito Secretário-Geral ao longo de quase treze anos.
Muitas vitórias e muitas derrotas, sempre políticas
Nem as vitórias nem as derrotas se sucederam de forma contínua ao longo
de sua carreira política. Participou nos três primeiros Governos
Provisórios como Ministro dos Negócios Estrangeiros. Provocou a queda do 4º Governo Provisório e, depois, a demissão de Vasco Gonçalves na
contestação ao 5º Governo Provisório e aos setores à esquerda do Partido
Socialista.
Foi o protagonista do Comício da Fonte Luminosa,
apoiou o 6º Governo Provisório e o golpe de Estado do 25 de novembro de
1975, que juntou o PS(Partido Socialista) e parte da direita moderada e viria a encerrar a Revolução de
Abril.
Eleito deputado por Lisboa em todas as legislaturas até 1986, foi
nomeado Primeiro-Ministro nos 1º e 2º Governos Constitucionais
(1976-1978), esteve na oposição parlamentar entre 1978 e 1983 e voltou a
ser primeiro-ministro no 9º Governo Constitucional, entre 1983 e 1985.
Este governo, de Bloco Central entre o PS e o PSD(Partido Social Democrata), pediu a
intervenção do FMI e este aplicou uma dura política de austeridade. Como
primeiro-ministro, Mário Soares assinou o Tratado de adesão de Portugal
à CEE, em 12 de julho de 1985.
A queda do 9º Governo Constitucional e a derrota de seu partido nas legislativas de
1985 para o PSD deixam o Partido Socialista mal colocado para as
eleições presidenciais que estavam para acontecer. Devido à política anti-popular
seguida pelo governo de Bloco Central, a popularidade de Mário Soares
era muito baixa no início da sua candidatura presidencial. No entanto, consegue forçar um segundo turno (obteve apenas 22% dos votos no primeiro turno e derrotar
Freitas do Amaral, o candidato da direita tido como provável vencedor. A
segunda volta da campanha é um momento histórico, marcada por uma
altíssima polarização social,
com a música "Rock da Liberdade" com Rui Veloso ao lado de Soares. Sendo reeleito em 1991 no primeiro turno, agora com a maioria absoluta de 70% dos votos válidos.
Candidatura ao parlamento europeu
Candidatou-se e é eleito eurodeputado em 1999, cargo que manteve até
2004 e novamente às Presidenciais de 2006 contra
Cavaco Silva, desta vez não conseguindo se reeleger. Apesar de obter o apoio oficial do PS nessa campanha, acabou por
ficar atrás do outro candidato da mesma área, Manuel Alegre também do PS, dividindo assim os votos, tirando-lhe a chance de vitória.
A partir de 2011, foi um ator central na movimentação social
das esquerdas na oposição à troika e às políticas de austeridade
europeias. Em janeiro de 2013 foi-lhe diagnosticada uma infecção aguda no cérebro
da qual se recuperaria. Em 7 de julho 2015 faleceu a sua esposa,
Maria Barroso. Mário Soares esteve presente na comemoração dos 40 anos do I Governo Constitucional, mas surgiu visivelmente debilitado.
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